Ágatha - Cadê a igreja bondosa, responsável e virtuosa?


Uma carta à Igreja de Jesus...

No livro de Apocalipse vamos ver a descrição de sete igrejas cada uma delas com suas  qualidades, com suas repreensões, alertas e promessas, em suma vamos ver a igreja da Éfeso precisando resgatar o primeiro amor; a igreja de Esmirna sendo perseguida e provada; a igreja de Pérgamo ousada, porém tolerante aos seguidores de Balaão; a igreja Tiatira que persistente na fé, no amor e no serviço, porém tolerante a Jezabel que seduz os servos de Deus para uma religião libertina; a igreja de Sardes que embora esteja morta ainda conserva alguns seguidores de Jesus com as vestes limpas; a igreja de Filadélfia que embora não tenha muita força, persevera na Palavra de Deus; e por fim Laodiceia; morna , porém a qual ainda é corrigida para ser aprovada pelo Senhor Jesus.

Todavia, para os dias de hoje poderíamos acrescentar Ághata, seria um bom nome a combinar com os outros sete, contudo o nome Ágatha[1] etimologicamente provém do grego Agathos e Aghate que significa “boa, perfeita, respeitável, virtuosa”, será que teríamos uma igreja com tais características na atualidade?

No dia 14 de agosto de 2019 estava eu indo para um grupo de pesquisa na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e eis que no caminho me deparo com uma cena comum e cotidiana nos metrôs de São Paulo, os guardas metroviários tentando expulsar moradores de rua da área pública do metrô, enquanto aguardo o uber passo a observar duas mulheres enroladas em meio a cobertas tentando negociar sua saída com os guardas já que estavam cheias de materiais artesanais e não seria uma tarefa fácil sair daquele local com chuva e uma temperatura em torno de 13º graus. Discussão daqui e dali, eis que surge debaixo das cobertas a pequena Ágatha com carinha de quem acabou de acordar e olhando para um monte de guardas que estavam discutindo com a sua mãe e avó.

Sem chances de argumentação, a avó começa a pegar dois ou três cestos de palhas artesanais por vez e inicia a travessia da passarela do metrô Barra Funda e os leva ao outro lado do metrô na calçada também pública, eu olhando aquilo sou tomada por uma crise de choro incontrolável, perco o uber e me aproximo para conhecê-las. Apresento-me a mãe da pequena Ágatha e busco saber a razão pela qual estão ali, sem imaginar que o nome Ágatha [2] também significa bem, do latim virtueus, que descreve como bondosa e que predispõe a criança ao amor, a pessoa assim chamada está sempre pronta para ajudar quem precisa, seus conselhos são baseados em uma intuição aguçada e são muito eficientes.

Então intuitivamente começo a aconselhar a mãe de Ágatha a colocar meias em seus pés descalços e começo a ouvi-la para entender o que fazes naquele frio árduo de São Paulo, não se tratava de moradoras de ruas, eram indígenas de uma comunidade do Paraná, eram pessoas sem instrução que na ânsia de sobreviverem pegam todos os seus produtos artesanais entram em um ônibus para São Paulo e que estão há dois dias nas ruas perdidas da cidade grande sem saber exatamente o que fazer. Atônita sem saber como ajudá-las de forma pratica e precisa, pois não queriam voltar para sua comunidade mesmo oferecendo a passagem de volta, não queriam voltar com o grande volume de produtos sem vender nada, também não consigo pagar uma pensão até que pudesse organizar algo para auxiliá-las melhor porque nenhuma pensão abrigaria a quantidade de produtos que carregavam nas mãos em muitas viagens para sair da área do metrô, não conseguia trazê-las para casa embora fosse a minha maior vontade de dar um banho e uma sopa quente para a pequena Ágatha, pois o número de produtos não caberiam num carro comum, com o coração partido e um desespero de alma me despeço prometendo voltar com ajuda.

Peço outro uber e saio orando no intuito do Senhor Jesus me mostrar um modo de auxiliar estas três meninas perdidas em São Paulo, lembro então que um dos orientadores do grupo de pesquisa sobre religiosidade, um mestre acadêmico é um cristão que tem uma menininha da mesma idade de Ágatha, em torno dos 5 aninhos, penso que com toda certeza o problema estaria resolvido quando pedisse a sua ajuda, mas não, disse ele que eu precisava de uma ajuda estrutural e me conduz então a informações da pastoral da universidade, chegando lá o padre de plantão estava jantando, esperei por quase uma hora e o padre não voltou, sai frustrada pedido ajuda pelas redes sociais, por uma Kombi ou uma van, pois a única saída seria trazê-las para minha casa, pois elas estavam dispostas a passar mais uma noite de frio nas ruas se não pudesse levar consigo seus produtos artesanais.

Volto ao metrô depois de três horas e meia e lá estão elas, Ágatha rejeitando um cachorro quente que ganhou de algum transeunte caridoso, de certo nunca deve ter comido aquilo na vida e brincando com algumas laranjas no potinho como quem não faz a mínima ideia que estava numa cidade perigosa no meio da rua e prestes a enfrentar uma madrugada de sete graus congelante. Sem nenhuma solução ainda, me despeço com o desejo profundo de ajudá-las. Saio pedido ajuda feito louca, ligo para um, escrevo para outro e nada, todo mundo se fingindo de morto ou seria um retrato de uma igreja de Sardes moderna?  Frustrada só choro sem saber o que fazer, procuro ingredientes na cozinha para fazer uma sopa e levar mais cobertas para elas até o metrô e uma voz conhecida visita o meu coração: “Acalme-se... tudo isto que você vivenciou hoje era para você ver o quanto a minha igreja é desunida e como fica o meu coração quando vejo as Ágathas nas ruas”, cansada de tanto chorar, oro por elas e durmo com uma dor de cabeça infinita e com uma espada encravada no meu coração e acordo decidida a falar de uma cultura de amor.

Cadê a igreja bondosa? Cadê a igreja do jejum de Isaías 58? Cadê a igreja do bom samaritano? Cadê a igreja do amor ao próximo?

 Sete dias depois recebo a mensagem de uma das líderes da assistência social da igreja local onde congrego atualmente me passando informações sobre como ajudar moradores de rua, já que na ocasião não pôde me ajudar pois estava no hospital com o seu filho que havia tido uma queda e batido a cabeça, por vez informo-lhe que sei de todos os trâmites para auxiliar moradores de rua em São Paulo porque já que trabalhei prestando este serviço na prefeitura e que não era o caso, pois ainda as indígenas não eram moradoras de rua, estava tentando ajudá-las para não se tornarem mais umas entre os quase 20 mil moradores de rua de São Paulo, mas que infelizmente havia pedido ajuda a muitas pessoas, mas ninguém se predispôs a fazer nada, então ela me responde: “Precisamos encontrar mais abrigos em SP”.

 Em resposta a este posicionamento com todo meu amor e respeito à disponibilidade desta pessoa em oferecer ajuda mesmo que tardia e ineficiente eu preferi escrever este texto e dizer a todos os que se assumem como cristãos; o que o mundo precisa mesmo não é somente de assistência estrutural, ou de mais abrigos na cidade, o que as cidades realmente precisam é de cristãos que amem como Jesus amou, de forma pratica, intencional e simplesmente humana.

Se para um ser humano separado por Cristo não dói saber que uma menina de cinco anos passará a noite na rua fria a mercê de um destino qualquer, se para um cristão ela é só mais uma entre tantas mil, se isto não desespera a alma de quem já foi salvo por Cristo, se testemunhar uma realidade desta não lhe tira o sono, se como discípulos de Cristo perdemos a capacidade de olharmos nos olhos de quem senti fome e frio, o tal avivamento, os congressos, as comissões e os ajuntamentos de crentes em Jesus não passam de vaidade de cristãos pós-modernos que gostam de serem importantes para fazerem “coisas importantes” para se mostrarem importantes, mas que na verdade não se importam com ninguém.

 O que o mundo de fato precisa é de igrejas Ágathas, bondosas, respeitáveis e virtuosas, sobretudo unidas para cumprirem o mandamento dado por Jesus; “Amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento, amando o próximo como a si mesmo”. Se esqueceram deste principal mandamento se faz importante reler a passagem de Mateus 22:37-40, pois destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas e se não houver amor seremos como um sino que tine.

- Por Vanessa Dasi

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